23 de maio de 2016

Filosofia vs. teologia


Embora São Gregório Palamás aceite a ideia de seu oponente Barlaão – que, afinal, era filósofo – de que todo bem no mundo é um dom de Deus e que todo dom é perfeito, ele não deixa de notar que, se todo dom é perfeito então ele também é perfeitíssimo – e isso forçosamente deve se aplicar à filosofia, que é um dom natural, não espiritual. Sob certas condições, a filosofia certamente introduz o homem no conhecimento dos seres existentes, porém, dado que esse conhecimento não pode ser igualado ao conhecimento divino, é óbvio que nem a ignorância é sempre má, nem o conhecimento é sempre bom. É exatamente por isso que a busca pela filosofia não deve ser impedida, ao passo que sua malversação deve ser denunciada.

É muito claro que os objetos de estudo da filosofia e da teologia são diferentes. A filosofia volta-se para a investigação da natureza e do movimento dos seres e, ademais, para a determinação dos princípios da vida social organizada; se ela opera dentro destes limites, então é um tratado sobre a verdade, mas se ela busca mover-se para além desses limites, torna-se uma ocupação sem sentido e, portanto, inútil e deletéria. A teologia volta-se àquilo que está para além da filosofia, ou seja, para as realidades invisíveis e eternas dadas pela filosofia cristã.

Com o tempo, a consciência eclesiástica encontrou o lugar adequado para os sábios da Antiguidade ao instalá-los no nártex das igrejas ou nos refeitórios dos mosteiros, visto que constituem o vestíbulo do edifício das verdades cristãs.

Fonte: Panagiotes Chrestou, Greek Orthodox Patrology, Orthodox Research Institute, 2006, 110-116.

Figura: Pintura a fresco de Platão no nártex do Mosteiro Vatopaidi, Grécia, 1858, por Nikephoros. Em seu manuscrito lê-se: "O velho é novo e o novo é antigo. O Pai está na Descendência e a Descendência está no Pai; o Um está dividido em Três e o Três constitui Um".